Da cidade à montanha
O problema não são os prédios do outro lado da rua, as chaminés, os telhados, a marquise onde uma senhora bate os tapetes com uma raqueta de verga, o café onde os estudantes entoam músicas académicas até altas horas da noite… até gosto de ter a orquestra ao vivo dentro da sala de estar: O problema é o calor que vem atrás do céu vertical logo a seguir às casas e que murcha as árvores, os carros, os sons e seca o ar… O calor de Coimbra faz um algarvio parecer um menino de escola pronto a descobrir o mundo levando consigo a mochila dos power rangers cheia de pastilhas gorila. Calor à parte, acordei com vontade de calar o despertador com um martelo… o despertador é o telemóvel, não dá jeito; ficava sem a máquina fotográfica, o gps, sem acesso ao instagram… ahh e sem poder fazer chamadas, mas isso é o menos importante…
A noite foi longa… Começou tarde. O problema das noites que começam tarde é que acabam ainda mais tarde. Aqui a matemática ainda bate certo, e a mesma matemática transforma o dia seguinte, que até já é o mesmo dia, num terror. A música era má, dizem…os dj’s deviam ouvir Stravinsky, mas a época das caravelas gastou-nos e preferimos escolher aquilo ao que nos habituámos, o que explica o motivo do medíocre maravilhar os académicos, reduzindo Portugal a uma paróquia de província onde os relógios pararam num tempo que não existe. As noites deviam começar mais cedo…. A vitamina D dá alegria, mas sem sol parece que quem dificuldade em fixar-se.
Com um dia fantástico e aproveitando a graciosa presença da minha mãe, resolvemos mergulhar mundo mágico da serra da Lousã, mais propriamente, o Talasnal, a aldeia de xisto onde a sensibilidade da natureza pede respeito pelos que lá vivem/viveram. É impressionante ver a dificuldade espelhada naquelas paredes de pedra. A dificuldade começa a tentar chegar à aldeia, que se encontra perdida por entre montes e vales repletos de riachos e árvores verdes… sim, verdes porque no algarve não são bem verdes, são amarelas e castanhas. A aldeia é tão inóspita que descrevê-la é como fazer chorar sem oferecer lenço. A época das caravelas marcou-nos e os relógios pararam num tempo que é guardado com carinho em muitas memórias. Que aldeia linda.
De volta à cidade do conhecimento, que sono… acho que vou dormir, mas há tanto para estudar … os estudantes têm de lidar com cada paradoxo… da próxima vez fico a ouvir Stravinsky (TS)
Do xisto à lua não há distância, cinzento e escuro deixa por ler o futuro...
ResponderEliminarEstavas mais inspirado que eu... Muito bom. Da amizade à lua também não há distância :)
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