De Faro a Coimbra.
Quando a vida nos afasta dos encantos do Algarve, para nos embalar no mistério e sedução de Coimbra, vemo-nos mergulhados num conjunto de contrastes que nos faz pensar na beleza das especificidades de cada região.
As mentalidades dos habitantes de ambas as regiões, partilham uma espécie de aversão natural à rápida mudança imposta por uma crescente modernização, seduzindo turistas de todo o mundo à procura dos seus mistérios e encantos mantidos intactos ao longo dos anos.
É expectável que exista uma linha cultural a separar estas duas regiões, uma vez que Coimbra foi berço do nascimento de seis reis e viu a primeira universidade de Portugal nascer, numa altura em que o Algarve ainda estava a acordar da reconquista definitiva aos mouros.
A leveza das antigas casas algarvias de paredes de cal, telhas vermelhas e chaminés minuciosamente recortadas, contrastam desde logo com a visão sombria das casas de xisto e telhado escuro da região centro.
Ao trocar Coimbra por Faro, o contraste linguístico também foi notório... uma imperial passou a fino, um canalizador passou a picheleiro, um café escorrido passou a café sem ponta, e quando chove granizo, cai uma saraivada.
Enquanto membro do grupo de folclore mais antigo do algarve e um dos mais antigos do país, Grupo Folclórico de Faro, tive a sorte de experienciar os costumes mediterrânicos ao nível da gastronomia das três áreas geográficas do algarve: o litoral com pratos de peixe e marisco, o barrocal com pratos simples de legumes, leguminosas e enchidos, e a serra com pratos mais pesados, de guisados de galinha e porco.
Na vida, as mudanças proporcionam aprendizagem e promovem o desenvolvimento, pelo que, embora adore a gastronomia algarvia, a nostalgia do peixe grelhado com salada montanheira, cai por momentos no esquecimento, ao saborear leitão da Bairrada, chanfana ou um arroz de pato à moda antiga.
Da lenda da moira encantada aos fatalismos radicais dos amores proibidos de Pedro e Inês, Faro e Coimbra com os seus contrastes e semelhanças, constituem incondicionalmente um marco da portugalidade.
(TS - newsletter "Contacto" IMT).
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