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A aldeia que o tempo perdeu

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O pequeno Guilherme crescera em tons de uma bipolaridade dicotómica que saltitava entre o cinzento da cidade e o verde da serra. O dia-a-dia do período das aulas era passado na, então pouco cosmopolizada, capital. As férias eram religiosamente passadas na aldeia, onde os arcos, flechas e bestas recriavam o filme do Robim dos Bosques, aquele senhor que roubava aos ricos para dar aos pobres. Os aromas do campo eram os únicos odores de santidade que conhecia. Ao crepúsculo era frequente ouvir a sua avó a chamar -            Guiiiiiiiii Num grito que, partido da sua aldeia, alcançava os melros no cume das árvores mais altas dos montes vizinhos, e afogava as lagartixas que bebiam o calor das pedras da ribeira. A vila junto à aldeia era formada por gente visivelmente envelhecida, pelo que os funerais eram tão constantes na rotina dos seus habitantes, como na capital as idas semanais ao cinema. Os cortejos fúnebres faziam ...