Coimbra
Coimbra no seu mistério, encanto, sedução e decadência está ligada a muitas das marcas que definem a portugalidade. O encanto da cidade observado através de um passeio a pé pela história, encerra nos mistérios de Santa Clara, as nossas raízes historicamente submersas pela força da natureza, e o fatalismo radical dos amores proibidos e Pedro e Inês. O calcário da sé velha desfaz-se com a erosão das chuvas ácidas, e com isso, soltam-se os sussurros centenários das notícias que corriam a galope, transportadas em letra manuscrita em cartas lacradas nos alforges de cavalos, por homens empoleirados que galgavam os estreitos caminhos de pedra. Histórias de amores e tristezas marcadas por uma época muito anterior ao comboio e ao telégrafo e ao telefone e à electricidade e ao motor de explosão e aos satélites e aos faxes e aos correios electrónicos e… aos cabos transatlânticos com fibras transparentes que transportam as notícias.
Foi durante séculos a maior Universidade portuguesa, hesitando hoje entre a aposta nos nichos de excelência e a sobranceria provinciana das glórias caducas. Formou as maiores vozes da resistência, mas também produziu aquele que foi o ditador português. Coimbra…. terra em que os "doutores" da Praça da República, que trazem a nostalgia antecipada da revolução alcoólica e a magia das serenatas, não combinam com os bípedes implumes das margens do Mondego que, sem vistas largas nem grande sabedoria, ensinam-lhes as horas amargas, lições de filosofia.
Ouvem-se os gemidos e o choro da Inês de castro e tão perto do murmurar da água da Fonte das Lágrimas, se vê o “sangue” cravado nas pedras que dão corpo à história. No Mosteiro de Santa Cruz ouve-se o chilrear do metal das espadas do infante que combateu leoneses, galegos e mouros. Dom Afonso Henriques, decidiu intitular-se a si próprio rei, obtendo pouco a pouco, habilmente, o reconhecimento da independência do condado que governava.
É uma cidade mal-amada por alguns, e por quase todos sonhada. Sofre de negro com o segundo clube do coração da maior parte dos portugueses. A vida cultural é estranhamente pobre, mas tem mais e melhores médicos do que a “Anatomia de Grey”.
A saudade dos que partem fica para sempre aprisionada pelas memórias esculpidas no encanto do penedo. (TS)
Comentários
Enviar um comentário