Loucura é apenas loucura

Já na praia, rumorosa das próprias ondas, ou do vento que sopra frases de liberdade, entregava-me às coisas suaves, às maravilhas da impressão profunda. Os tons de um azul oblíquo, e a espuma que desabava na areia, congregavam em si todas as ressacas num regresso à liberdade da origem. Ali dormia sem sono, desviado da noite de mim mesmo e da frescura das tardes tristes. A doçura de estar só, em que sentimos o orgulho do desterro a embater-nos na testa, abraça-nos como se de uma loucura terna se tratasse. Os sonhos fazem-nos crescer, mas dar demasiada importância aos sonhos, é dar demasiada importância a algo que se separou de nós próprios. A vulgaridade veste-nos de conforto num quotidiano materno, e mesmo quando nos afastamos desse conforto, sabe tão bem voltar ao bar onde riem os parvos felizes, e beber com eles, parvos também. Não me espanta que se diga que um homem louco supera em muitos conseguimentos da vida, um homem vulgar. Os epilépticos são, na crise, fortes, os paranóicos raciocinam como ninguém, e os fanáticos religiosos agregam multidões de crentes como demagogos não conseguem fazer. A loucura é no fundo apenas loucura, no entanto é preferível a derrota com o conhecimento da beleza das flores, do que a vitória no meio do deserto, cheia de cegueira na alma. Às vezes o sonho fútil faz-me perder tempo depois de acordar. Lá porque sonho, não preciso sofrer o insulto de dar aos sonhos outro valor que não o de serem apenas peças do meu teatro intelectual. De volta à praia, ali tudo é luz, sombra e pó mexido. Não há voz senão o rumor das próprias ondas, ou do vento que sopra frases de liberdade. (TS)


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