Noite

É noite. A noite é escura porque as nuvens teimam e não deixar passar a luz que a lua tenta refletir. Da janela vejo as luzes dos apartamentos engavetados em paralelepípedos rectângulos, que na vertical criam um bonito jardim de betão. As pequenas luzes que saem das gavetas são como que instantes visíveis de vidas suspensas no tempo. Observo-as e sinto-me humano dos pés à cabeça. No calor da noite, enquanto muitos dormem, há loucos que aceleram a mente. É curioso que as luzes das vidas alheias, vistas de longe, possam ser uma atração. Sem dúvida que essas vidas têm caras, famílias e profissões. O que me importa são só as luzes que saem das janelas. Como dizia Alberto Caeiro, “A luz é a realidade imediata para mim, e eu nunca passo para além dessa realidade”. Em relação à distância onde estou, só me importa as luzes. Quando elas se apagam…quem sabe se as vidas que lá existiam continuam a existir? TS


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