Em agosto, nada de nada
A pouco e pouco o céu começa a mudar de tonalidade, anoitece e as coisas tornam-se mais delicadas antes de desaparecerem no escuro. A luz amarela dos candeeiros substitui a claridade azul. As sombras principiam a crescer numa paz lenta de silêncio. Em agosto nada acontece nesta cidade. Não há gritos, não há carros nas ruas, não há azáfama… nada de nada. Tanto ruído no interior deste silêncio. Acendo um velho candeeiro, puxo uma cadeira para me sentar e deito no copo um resto de whisky que acampava numa garrafa há mais de 8 anos. As cadeiras e a mesa ganham um novo sentido, um aspeto mais útil. Um pouco incomodado pelo tamanho silêncio, tento escrever umas linhas. Encostada à parede a minha guitarra contente de ser bonita, interessada na minha escrita, coitada
- Sou gira não sou?
Não é lá muito gira, mas garanto-lhe com a cabeça que sim. Ela aumenta logo de tamanho, feliz, enquanto as sombras principiam crescer na paz lenta do silêncio.
Se eu soubesse tocar uma daquelas trovas românticas, palavra de honra que tocava. Admiro alguns trovadores da América do Sul. A vida é breve mas a arte que fica é longa. Nunca esquecerei as palavras de liberdade e esperança que alguns deixaram no vento. Se ao menos pudéssemos viver com as coisas mais simples em vez de recordar as complicadas. Voltar à pobreza do elementar.. fogo, água e terra. A esferográfica aos tropeções, e rabiscos… zero. Hoje não é dia. As sombras principiam a crescer numa paz lenta de silêncio. (TS)
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