Um Deus criacionista (parte I)

No princípio, antes da génese dos universos não havia ainda sido criado o tempo, nem gerado o espaço. Sem o binómio tempo-espaço, não havia galáxias, nem sistema solar, nem moléculas, e por consequência… não havia qualquer forma de vida complexa ou inteligente, nem lugar para nascerem. Não havia nada? Havia Deus… mas estava só… sozinho sem nada que ver, sem nada que ouvir, sem nada que fazer… nada de nada. E assim viveu biliões e biliões e biliões de anos. Um dia, pensou que viver sozinho num mar de nada era demasiado aborrecido e decidiu que tinha de fazer algo para acabar com a monotonia. Sentou-se, esticou as pernas, inclinou a cabeça para cima, e ali ficou imóvel por mais uns biliões e biliões de anos a pensar. Esperem lá… Deus tem pernas? Tem cabeça? Adiante… Sem energia nem matéria e numa solidão sem limites, sombria pela ausência de luz, a tarefa não seria fácil. De que lhe valia ser omnipresente, omnipotente e omnisciente, se não existia nada para além dele. Decidiu então criar algo que o resgatasse daquela solidão, um ponto de luz que alumiasse o vazio à sua volta. Numa altura em que os dias eram rigorosamente iguais, cada minuto era um clone do seu precedente e do seu descendente, uma luz parecia uma boa ideia. Deus pegou no seu caderno de notas e fez os cálculos de física e matemática necessários à criação de um ponto de luz. Pim pam pum e aparece uma luz ao fundo, batizada de estrela. Deus fica maravilhado com a sua criação e fica milhões e milhões de anos seguidos a observá-la. Se já tivesse sido inventado o whisky e as cadeiras, ter-se-ia sentado a beber um copo enquanto olhava o brilho hipnotizaste da sua criação, mas não…. Isso só acontecerá lá mais à frente. Com os passar do tempo a estrela começa a perder a luz até se extinguir na imensidão do nada. Deus ficou triste e às escuras novamente. Ter de processar a dor da solidão sem whisky não é tarefa fácil. Triste e solitário, mas orgulhoso e pensativo. Aquando da extinção da sua criação, Deus verificou que à medida que a luz ia ficando mais azulada e mais fraca, os minutos deixaram de ser clones dos anteriores e dos seguintes. Naquela janela temporal, algo variara com o passar do tempo. “Vitória” grita Deus numa euforia de criança. 
 

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