Meu Deus, tanto sono!
À noite, às vezes ficamos só no quarto com o sossego de nós próprios. Quando o pano baixa e a escuridão nos toca levemente no fundo da retina, como quem nos chama para uma viagem de sensações subconscientes, começam as surpresas vívidas. É um universo barato. O relaxamento inconsciente, faz-nos renascer para uma outra vida repleta de pesadelos agradáveis. Capítulos inacabados que nos fazem querer fechar os olhos e voltar a mergulhar de novo na cena interrompida em gritos histéricos por um qualquer despertador. Naquele palco não existimos. Somos intervalos entre o desejo de ser e o que realmente somos. Se também houver vida nesse palco, então somos só metade desses intervalos entre o desejo e a realidade. Não pensamos em nada, que é a coisa central de ser coisa nenhuma. Pensar em nada é viver intimamente os fluxos e refluxos da vida. Também cansa. A certa altura temos de ficar cansados. A transparência lúcida do entendimento retrospetivo acompanha bem com uma vontade de sono no corpo. ...