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A mostrar mensagens de fevereiro, 2017

Meu Deus, tanto sono!

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À noite, às vezes ficamos só no quarto com o sossego de nós próprios. Quando o pano baixa e a escuridão nos toca levemente no fundo da retina, como quem nos chama para uma viagem de sensações subconscientes, começam as surpresas vívidas. É um universo barato. O relaxamento inconsciente, faz-nos renascer para uma outra vida repleta de pesadelos agradáveis. Capítulos inacabados que nos fazem querer fechar os olhos e voltar a mergulhar de novo na cena interrompida em gritos histéricos por um qualquer despertador. Naquele palco não existimos. Somos intervalos entre o desejo de ser e o que realmente somos. Se também houver vida nesse palco, então somos só metade desses intervalos entre o desejo e a realidade. Não pensamos em nada, que é a coisa central de ser coisa nenhuma. Pensar em nada é viver intimamente os fluxos e refluxos da vida. Também cansa. A certa altura temos de ficar cansados. A transparência lúcida do entendimento retrospetivo acompanha bem com uma vontade de sono no corpo. ...

Desabafos por arrumar

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Após ler o texto intitulado "A triste geração que tudo idealiza e nada realiza" escrito por Marina Melz para a revista brasileira "Paz", fiquei com uma enorme vontade de soltar os desabafos que, mal arrumados, me ocupam espaço na biblioteca intelectual.  A jornalista começa por referir que chegou à conclusão que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer e idolatra sem se perguntar porquê. Somos aqueles que empreender é fácil e toda a gente pode viver do que gosta de fazer. Fazemos cada vez menos política na vida e mais no facebook. Uma geração que não se importa de errar porque conta com a tecla de apagar. Postar é tão fácil (e apagar também) que postamos tudo sem o peso do papel ou da credibilidade. Há uma década a informação só se conseguia se tivéssemos sede de conhecimento e trabalho de a procurar. Hoje a informação aparece-nos sem esforço à frente dos olhos, quase sempre deturpada, e inserida num contexto leviano que nos retira valore...

Os dias de uma cidade normal...

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A cidade onde moro há 5 anos é a mesma que habita os sonhos dos estudantes há mais de quatro séculos. Cidade sem idade, onde muitos sonhos nasceram e muitas lágrimas se verteram. As ruas que se dobram em cotovelos imprevistos, correm coxas com um passeio ao sol e outro à sombra. Aquando da minha chegada, muitos sábados foram passados a cavalgar a fera amarela, um jipe ancião de fabrico português que a minha mãe me comprou há muitos anos atrás. Procedia com método à verificação da cidade, ponte por ponte, faculdade por faculdade, numa peregrinação que terminava invariavelmente no Penedo da Saudade. Ali via a vida a passar numa paciência de pele-vermelha que aguada, atrás do seu penedo, a chegada dos batedores brancos. Certa manhã fria, desci até ao jardim botânico e sentei-me num banco de ripas a ler as crónicas que um amigo meu publicou, enquanto um raio quente de sol, perdido por entre os galhos carnudos, se me enroscou aos tornozelos numa fraternidade canina. As letras que saltavam ...

A arte do movimento

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Tu que moves o mundo, posso mover-te a ti? Puxo-te para aqui, inclino-te para ali… Coloco o pé esquerdo junto às nuvens, e, com o corpo, ensino-te a escrever no espaço. Jogamos em absoluta confiança neste mundo tão diferente. Sentimos as formas que desenhamos no chão; alongar, encolher, rodopiar e inclinar, e depois de tanto ensaiar… começam a soltar-se versos escritos no ar. Com movimento, graça e leveza, em gestos leves repletos de magia, a vida passa enquanto o dançarino cria. Não é o ritmo nem os passos, é a paixão… Se voar dizem que cansa, eu quero correr o mundo em passos de dança. (TS)

Manhã aTRUMPalhada…

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7:30h  Subo ao íngreme topo do desfiladeiro. A paisagem é de cortar a respiração… tiro a mochila das costas para pegar no telemóvel e tirar umas fotos, mas reparo que deixei o telemóvel em casa… não é inteligente ir para o Grand Canyon sem telemóvel… e ainda menos inteligente quando se vai sozinho. Contemplo a paisagem. Fecho os olhos para inspirar o gélido ar puro… e puff. 7:35h A lividez gelada da manhã aclara-me os olhos e sou brutalmente arrancado do útero do sono pelo saltitar frenético do alarme do meu relógio. Sim, durmo com o relógio porque decidi monitorizar o sono (modernices). Olho para o pulso e vejo que dormi 9 horas. Dormir 9 horas é ótimo para compensar o cansaço acumulado, não fosse o relógio dizer que a eficiência do sono foi de 65%… Dormi 9 horas mas descansei como se tivesse dormido 4 horas. Há coisas que mais vale não saber. 7:40h  Olho para o telemóvel e vejo em todos os jornais uma cara entre tons de loiro e laranja que antecipa sufrágios. Esta...

Tranquilamente...

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Não tenhas medo… não, tranquilamente… Como quem acorda numa manhã de outono, Deixa cair os braços e reclina a cabeça suavemente, Fecha os olhos, como os pássaros com sono… E depois? O que há depois? Depois?  O eterno nada? Há outro mundo… O azul do céu, o verde das árvores, Folhas castanhas a dançar no ar, Que importa quando tudo está moribundo? Seja como for, há coisas melhores que o mundo! (TS)

Era uma vez na casa dos avós...

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Há muito muito tempo, num pequeno e humilde povoado da serra algarvia, já se avistava o fumo que saía das pequenas chaminés dos fornos de lenha, que pintados de um branco imaculado, faziam turnos atrás de turnos para cozer o pão e os bolos tradicionais da época natalícia. Cada casa daquele povoada tinha uma história diferente para contar, e o pequeno Francisco todos os anos, invariavelmente, abdicava do conforto da cidade, para passar as férias de natal na casa de aldeia dos avós. Vinha-lhe o aroma agradável do pão doce que a sua avó acabara de tirar do forno e o seu pequeno estômago já delirava de felicidade. A chuva fria caía de mansinho. O cheiro da terra molhada enroscado no aroma das roseiras, o bailado das oliveiras, o crepitar da lenha na lareira, transformavam a sua chegada numa festa de sensações. A primeira reação era correr para junto da lareira onde, em cima da mesa já se encontrava uma fatia de pão ainda quente com manteiga, e um copo de leite com cevada torrada. - Av...