Meu Deus, tanto sono!

À noite, às vezes ficamos só no quarto com o sossego de nós próprios. Quando o pano baixa e a escuridão nos toca levemente no fundo da retina, como quem nos chama para uma viagem de sensações subconscientes, começam as surpresas vívidas. É um universo barato. O relaxamento inconsciente, faz-nos renascer para uma outra vida repleta de pesadelos agradáveis. Capítulos inacabados que nos fazem querer fechar os olhos e voltar a mergulhar de novo na cena interrompida em gritos histéricos por um qualquer despertador. Naquele palco não existimos. Somos intervalos entre o desejo de ser e o que realmente somos. Se também houver vida nesse palco, então somos só metade desses intervalos entre o desejo e a realidade. Não pensamos em nada, que é a coisa central de ser coisa nenhuma. Pensar em nada é viver intimamente os fluxos e refluxos da vida. Também cansa. A certa altura temos de ficar cansados. A transparência lúcida do entendimento retrospetivo acompanha bem com uma vontade de sono no corpo. Aproveita-se o tempo tirando da alma os bocados precisos, que ajustados e empilhados, formam cubos de histórias, sensações em castelos de cartas, e pensamentos de dominó. Podemos ser uma folha de árvore que dança à passagem da brisa quente, a poeira de uma estrada sozinha ou o pião do menino que gira até parar. No sono de haver mundo connosco lá dentro, tudo oscila no mesmo movimento da alma. (TS)


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