Desabafos por arrumar


Após ler o texto intitulado "A triste geração que tudo idealiza e nada realiza" escrito por Marina Melz para a revista brasileira "Paz", fiquei com uma enorme vontade de soltar os desabafos que, mal arrumados, me ocupam espaço na biblioteca intelectual. 
A jornalista começa por referir que chegou à conclusão que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer e idolatra sem se perguntar porquê. Somos aqueles que empreender é fácil e toda a gente pode viver do que gosta de fazer. Fazemos cada vez menos política na vida e mais no facebook. Uma geração que não se importa de errar porque conta com a tecla de apagar. Postar é tão fácil (e apagar também) que postamos tudo sem o peso do papel ou da credibilidade. Há uma década a informação só se conseguia se tivéssemos sede de conhecimento e trabalho de a procurar. Hoje a informação aparece-nos sem esforço à frente dos olhos, quase sempre deturpada, e inserida num contexto leviano que nos retira valores. E sem valores....não conseguimos separar o que tem qualidade do que não tem. Há cada vez mais informação, mas cada vez menos conhecimento. Sabemos como melhorar o mundo, mas não o fazemos por preguiça. Acreditamos em textos que dizem que o segredo para viver até aos 236 anos é comer todos os dias de manhã uma colher de linhaça com gengibre e à noite beber chá verde. Não procuramos as fontes de tal informação, e mesmo que tentemos, os artigos são demasiado caros para comprar, tendo em conta que cada texto fidedigno possui imensas referências bibliográficas. A "falsa ciência" é gratuita e fácil de aceder, enquanto que a verdadeira ciência é estupidamente cara. Cada artigo não custa menos de 30€. Até refletindo sobre a ancestral batalha ciência versus religião, a religião está em vantagem... é gratuita e a ciência não. Toda a gente escreve livros, grava cd's, conta histórias em público, e nós não sabemos separar " o trigo do joio". Está tudo subvertido. As parvoíces encontraram o caminho para o sucesso nas redes sociais, transformando os seus autores em milionários. Quanto mais parvo, mais viral, maior número de receptores, mais dinheiro através da publicidade, que na maior parte das vezes é indesejada. 
A Maria Leal está com a agenda cheia, cobrando 1000€ por cada espetáculo em que canta 3 temas (não lhe chamei músicas propositadamente). E aqui refiro: não tenho nada contra ela, pois sou da opinião que cada um deve ser livre de fazer o que quer e/ou conseguir. Até porque ninguém nasce ensinado e as carreiras são uma evolução. Muitos artistas preferem nem falar dos primeiros trabalhos, porque consideram não ter a qualidade com o qual se identificam. No entanto, não é isso que a sociedade faz. Os artistas ganham enorme sucesso enquanto não possuem qualidade e depois, antes de ganharem qualidade, são descartados à velocidade a que um cartucho salta depois do projétil ser disparado. Um artista famoso não é conhecido pelo seu trabalho, mas sim pela sua irreverência, e neste aspeto, normalmente, quanto mais chocante, mais seguidores no instagram. Hoje vivemos de forma arrogante, só para nós, à procura de mais e mais, de subir, de conquistar. Relativamente ainda às redes sociais, esqueci-me de escrever sobre as ingénuas e inúteis correntes que circulam apelando a que cada receptor nomeie mais dez. A matemática da coisa é a mesma de quase todos os vírus informáticos e funciona de forma semelhante, às vezes com resultados iguais. 

Enfim, uma geração cheia de ideais e ideias que deixa ao mundo o plano perfeito ao seu funcionamento, mas que não vai fazer nada porque estava com fome e não sabia fazer arroz. (TS)





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