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A mostrar mensagens de 2015

As cores do Inverno

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Por me considerar um nostálgico incorrigível, provavelmente motivado pela minha infância danada de boa, vou falar do inverno começando pelo seu antagónico. O verão sempre me deixou saudades: a estrada até à praia, o cheiro do alcatrão a derreter, da maresia, o som das ondas, o para-brisas coberto de insetos “kamikaze”, omoplatas marcadas por escaldões e linhas que marcam fronteiras entre a pele branca e a pele morena. Já o inverno nunca me deixou nostálgico, mas sempre me fascinou. Entre outras coisas, sempre me fascinou a forma como a natureza se adapta a uma mudança tão drástica da temperatura. E o pequeno pássaro? que não pode vestir a camisola de lã tricotada pela sua avó nas noites mais frias, e mesmo assim não congela. Como a área próxima dos olhos e bico é por onde perde mais calor, de noite, esconde a cabeça debaixo do seu casaco de penas e liga o aquecedor, transformando-se  num pompom que sabe voar. Assim que o primeiro raio de sol lhe dá um beijo quente, e depois de t...

Os amigos

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Hoje é dia de super noite. Super noite um porque temos uma super lua e super noite dois porque é noite de reencontrar velhinhos amigos e ver como estão os minimilks, sem deixar que eles comam aquela bolacha gigante que se vê hoje no horizonte e que deixa a petizada e o monstro das bolachas com urticária de tanto desejo. Até aqui temos viajado juntos… às vezes a viajem não é material, mas continuamos juntos… É como se fossemos dentro de um pão de forma esquizofrénico a queimar  semáforos até ao infinito. Atravessámos vilas, cidades, florestas, montanhas, vales, abismos, obstáculos, e também atravessámos vidas. Percorremos retas, ajudámo-nos nas curvas, e como qualquer viagem, as subidas e descidas estiveram sempre presentes. As experiências compartilhadas até então criam um efeito de alavancagem, que nos ajuda a maximizar a alegria do momento, e nesses pedaços de tempo entre o tempo, o pão de forma atravessa praias, ilhas e florestas encantadas… Sim, é um pão de forma a sério,...

Coimbra

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Coimbra no seu mistério, encanto, sedução e decadência está ligada a muitas das marcas que definem a portugalidade. O encanto da cidade observado através de um passeio a pé pela história, encerra nos mistérios de Santa Clara, as nossas raízes historicamente submersas pela força da natureza, e o fatalismo radical dos amores proibidos e Pedro e Inês. O calcário da sé velha desfaz-se com a erosão das chuvas ácidas, e com isso, soltam-se os sussurros centenários das notícias que  corriam a galope, transportadas em letra manuscrita em cartas lacradas nos alforges de cavalos, por homens empoleirados que galgavam os estreitos caminhos de pedra. Histórias de amores e tristezas marcadas por uma época muito anterior ao comboio e ao telégrafo e ao telefone e à electricidade e ao motor de explosão e aos satélites e aos faxes e aos correios electrónicos e… aos cabos transatlânticos com fibras transparentes que transportam as notícias.  Foi durante séculos a maior Universidade portugue...

Andanças 2015

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A minha mente tende a descrever os festivais de verão como sendo compostos por um cartaz que começa ao final da tarde e se arrasta noite dentro, com zonas de campismo que parecem campos de guerra, e onde, a uma distância enorme se encontra algum “spot” onde passar as horas mortas - normalmente uma praia ou um rio. O Andanças é em tudo diferente… É um festival que promove a música e dança popular, enquanto meios de aprendizagem e intercâmbio de saberes e culturas entre gerações, resultado das sinergias que se geram entre os cidadãos do mundo ávidos de saberes. Imaginem um festival em que os artistas chegam da mesma maneira que as restantes pessoas, acampam no meio delas e metem conversa com elas… As bandas com enorme qualidade, essencialmente de estilos folk, tornam os workshops e as noites mágicas com as suas sonoridades.. não percebo porque não passam na rádio, até porque não se trata de nada experimental nem são difíceis de ouvir. As manhãs e tardes proporcionam-nos a apren...

Da cidade à montanha

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O problema não são os prédios do outro lado da rua, as chaminés, os telhados, a marquise onde uma senhora bate os tapetes com uma raqueta de verga, o café onde os estudantes entoam músicas académicas até altas horas da noite… até gosto de ter a orquestra ao vivo  dentro da  sala de estar: O problema é o calor que vem atrás do céu vertical logo a seguir às casas e que murcha as árvores, os carros, os sons e seca o ar… O calor de Coimbra faz um algarvio parecer um menino de escola pronto a descobrir o mundo levando consigo a mochila dos power rangers cheia de pastilhas gorila. Calor à parte, acordei com vontade de calar o despertador com um martelo… o despertador é o telemóvel, não dá jeito; ficava sem a máquina fotográfica, o  gps, sem acesso ao instagram… ahh e sem poder fazer chamadas, mas isso é o menos importante…  A noite foi longa… Começou tarde. O problema das noites que começam tarde é que acabam ainda mais tarde. Aqui a matemática ainda ...

Helvécia

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Helvécia, a terra das vaquinhas inteligentes... Já dentro do comboio prestes a chegar a casa, e depois de mais uma incursão pela terra dos chocolates, estava capaz de me ir embora... Outra vez... Há dias que estamos capazes de ir embora, pegar na chave do carro sem motivo nenhum, descer pelas escadas, não vá o elevador querer estragar a súbita partida, e acelerar, queimando semáforos na direção da auto-estrada, sem ligar aos painéis que indicam as cidades e as distâncias. Hoje não é desses dias.... Estou capaz de voltar no mesmo avião onde acabei de aterrar. É só esperar que reabasteça, e dar tempo para entrarem os novos vizinhos… Combustível, check; portas, check; cintos, check; instrumentos, check; flaps, check… e lá ia eu novamente. Lembro-me tão bem das primeiras vezes que fui à Suíça. Depois de aterrar pela primeira vez, o meu espanto foi súbito, instantâneo e fulminante. Parecia que tinha aterrado noutro planeta, um planeta de prados verdes e vaquinhas, em que o prado...

Trinta e Três

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E de manhã lá estás tu no espelho da casa de banho à tua espera. Tu, que de manhã demoras tempo imenso a reconhecer-te num homem que nem te imita os gestos, fá-los ao mesmo tempo. Querias crescer depressa…. aí tens. O que perdeste, o que ganhaste? Vistas as coisas, cresceste mais depressa do que imaginavas e no entanto, tudo foi tão lento antigamente. Horas infinitas a olhar o sol enquanto nasce, embrulhado em papel celofane, ao que o meu avô apelidava de “espr eitar o sol”, empoleirado no pequeno muro à entrada de casa, via o frio da manhã desaparecer ao mesmo tempo que o horizonte destapava o manto branco do orvalho para dar lugar ao pijama colorido em tons de verdes, vermelhos e amarelos. O tempo entre aniversários era quase infinito. Aquilo que costumavas chamar de circunstância, não passa, muito simplesmente, do que consentiste que a a vida e as pessoas te fizessem. Aos vinte anos julgavas que o tempo te resolvia os problemas… aos trinta e três dás-te conta que o tempo é que s...

Living Chapters...

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I'm not good with words. Maybe not better with numbers. I do not believe in what I can’t see, but also do not always believe in all I see. I like what takes my breath away. I venerate the improbable. I crave the almost impossible. My heart is free, even loving so much. I have a will that doesn’t go away, and a word that never sleeps, like a speck of dust floating around the Milky Way. I'm not easy. I’m selective. I have the restlessness in my pocket. Sometimes when it's late  at night, I travel. And ... without knowing I seek the answers that I never find. It's like when we sleep and suddenly we feel we have discovered the secrets of life and the universe. We struggle to wake up and when we got to the surface, we have nothing, because it's all gone while we were climbing. Each moment in my life is a new chapter and each one provides a new lesson to learn and a story to tell. I have done the careless chapter, the naïve chapter, the lost chapter, the growing...